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segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Impeçam-me os deuses de sonhar!


  Hoje, a paz deste silêncio é tanta, que nem consigo sonhar.
  Às vezes, tá tudo bem, mas o silêncio que nos cerca faz pensar...
  muitas vezes, tá tudo em paz, mas a lembrança entra pela porta aberta.
  Fica ali no canto, como quem não quer nada, e aperta o coração
  como uma saudade do que um dia já fora concebido,
  como a falta de um ser que embora não nascido, sentimos o pulsar.
  - Ah! impeçam-me os deuses de sonhar! que esta lembrança
  fica à espreita, como se nos quisesse fazer duvidar de tudo,
  até de toda esta paz que vem de um quase nada, mas ainda não é do amor,
  e a gente quase se deixa levar de novo pela lembrança adorada
  daquele rosto,da voz, das palavras,do sonho,do riso encantador, mas resiste,
  não quer ir, mas também não quer ficar. Entre o sim e o não
  uma voz quebra o silêncio e em sussurro, fala comigo :
  - fica aqui...entregue-se ao presente, não há pra onde ir, fica!
  É quase impossível resistir à luz que me encanta, mas desta vez, consigo,
  só porque o silêncio é tão grande que me toma inteira, e finalmente,
  sufoca a tentativa de qualquer parte de mim que, inconsequente,
  ainda queria, desejava ir ao encontro do que não sabia...
  Nada existe além da minha vontade que aos poucos se aquieta?
  O silencio que a matou, também me salvará ?
  Teu gesto que um dia me salvou traz uma adaga que me fere.
  E quando a saudade na tua ausência vem me apunhalar,
  já não tens rosto,nem voz ou palavras dos quais possa me lembrar.
  Porque não me deixaste um sinal teu que pudesse abrigar
  o sorriso da minha alma, na feliz certeza de te esperar.
  E é este o silêncio que me toma e me envolve numa estranha paz.
  Dela nada sei, nem da incerteza das minhas manhãs.
  Temo que um dia, o silêncio seja tão duro e insistente
  que talvez, eu finalmente te esqueça...e um de nós morrerá...
 
  Poema: Vera Alvarenga
  Vídeo da música "Travessuras" - Oswaldo Montenegro.
 

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